domingo, 23 de junho de 2013



O GARIMPEIRO... A JÓIA... A FLOR...
  
- A jóia é apenas uma pedra que foi valorada acima da média e das outras pedras... dizia o garimpeiro enquanto golpeava a rocha com sua picareta curta, pontuda e dura.
- Mas... quem valorou a jóia?... quem a dotou de qualidade, preciosidade, valoração? A natureza? O acaso? O acaso... sim,  talvez! Porque nem todo carvão vira diamante! Ou a própria jóia, por sua própria essência e raridade? O tempo? Ou unicamente o homem, e sua vaidade, orgulho, ostentação, ambição, enfim, o homem e suas virtudes e defeitos?  
- Ou tão só a escassez;  por ser escassa e não abundante como as outras pedras? É por causa de seu brilho e reluzência? Ou porque as outras pedras, comuns e iguais e abundantes, são opacas, sem brilho, sem fulgor? Cintilação?
Dizia essas coisas o garimpeiro à sua alma, enquanto maltratava a rocha, no escuro, no mais profundo buraco escavado ao pé do morro.
A picareta agredia a montanha, rasgava as entranhas da terra.
O mineiro resolveu, depois de muito cansaço e suor, abandonar o garimpo.
Voltou à superfície.
Demorou a acostumar-se com a luz.
O sol, e seu brilho, feriam-lhe os olhos.
Custou a enxergar, com olhos abertos, o sol, o dia, o brilho e a luz, os montes, as árvores, os pássaros, os vales, as flores, as cores.
Só conhecia a escuridão da caverna, e quando saia do buraco fundo, já era noite; e mesmo quando clara por conta da lua, a noite ainda é escura, é sombra; mulher travessa que se finge menina e se cobre toda com manto de estrelas e luar para não ver, ciumenta, a luz do dia.
Depois que os olhos aprenderam a ver e enxergar o dia, e a luz, e as cores, e as flores, e as árvores, e os montes, e os vales, e os rios, e os mares; fez-se jardineiro.
Plantou flores!
Canteiros de flores e jardins.
E a flor, apesar de perene e passageira, frágil e delicada, agradava mais ao viajante que a gema rara.
Nenhum viajante visitava a mina. Raramente algum curioso desavisado entrava na gruta para vasculhar cascalhos atrás de uma jóia esquecida. Ilusão de criança: ganhar presentes, ilusão de adulto: ganhar prêmios e sorteios; vencer o jogo.
A maioria dos viajantes se detinha nos canteiros do jardim.
Os jardins floridos enfeitavam a montanha. O morro ganhara vida.
Árvores brotaram. Os frutos atraíram pássaros e animais e vida.
O tempo fez o jardineiro esquecer-se das agruras da mina, O morro, agora belo e imponente, perdera a imagem de opressão e dor.
O cinzento e negro deu lugar a cores vivas.
- As flores voam no morro! Dizia o jardineiro, referindo-se às nuvens de borboletas coloridas que esvoaçavam pelo ar.

Ívor Barretti.
   escritor              

2 comentários:

  1. Caro Ivor, venho parabenizá-lo pelo seu maravilhoso blog. A sua literariedade é admirável! Um abraço, continuadas inspirações e sucesso sempre.

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