quinta-feira, 19 de maio de 2011

ALGUNS POEMAS-INGRID

PODE SER QUE UM DIA ...

Pode ser que um dia o céu fique verde de raiva.
Pode ser que um dia, eu saia antes que a casa caía.
Pode ser que um dia, o sol declare escuridão total.
Pode ser que um dia
a vovozinha coma o lobo mau.
Pode ser que um dia...
um dia valha por dois.
Pode ser que um dia, nada fique prá depois.
Pode ser que um dia a lua abandone São Jorge.
Pode ser que um dia alguém exorcize meu bode.
Pode ser que um dia, as pessoas percebam
a existência de outras pessoas.
Pode ser que um dia todos percebam que nada acontece à-toa.
Pode ser que um dia, a vida desmascare a morte
e viva para sempre.
Pode ser que um dia as bocas falem o que realmente o coração sente.
Pode ser que um dia, o bicho-de-sete-cabeças nunca mais apareça.
Pode ser que um dia eu nunca mais te esqueça!
Pode ser que um dia...
Os sussurros,  os murmúrios, as falas,  os gritos,
as risadas,  os choros, os gemidos
e tudo o que é som,
se unam em uma só voz,
como se viesse de um só coração,
de uma só vontade de transformar um dia qualquer,
num dia em que você possa ser o que você quiser!  
                     
                      Ingrid.





CORP’ALMA



A alma, cansada de descansar, quer trabalhar.
O corpo corroído pela dor e por bactérias quer descansar.
Cansou de trabalhar.
A alma já desperta e bem dormida quer acordar.
O corpo desprovido de esperteza precisa dormir.
A alma quer chupar sorvete e fumar um cigarro.
O corpo tem a matéria doente
e nem água consegue tomar.
A alma quer correr e patinar.
O corpo mal se levanta do sofá.
A alma quer acordar cedo e ir trabalhar.
O corpo precisa repousar e recuperar proteínas.
A alma quer gastar, gastar, gastar, até ficar devendo.
O corpo precisa economizar energias.
Alma e corpo.
Corpo e alma.
Alma e Corpo.
Corpo e Alma.
Alma e corpo
... Corp’alma...    

                                Ingrid.















CRIATIVIDADE


Pinte além da tinta!

Cante e toque além da música.
Beije além da língua.
Escreva além das palavras.
Ouça além dos ouvidos.
Grite além da voz.
Caminhe além das pernas em direção
ao amor e à liberdade.
Leia além dos livros.
Voe além da imaginação.
Viaje além das drogas.
Respire além do oxigênio.
Veja além os olhos.
Sinta meu corpo além de suas mãos.
Não faça sexo, faça amor.
Ame além do amor.
Morra além da morte.
Sofra além da cólera.
Goze além do tesão.
Acorde além do dia.
Vampirize-se além da lua cheia;
Cheia... cheia...
Cheia de você, cheia de mim.
Viva seus atos além do limite.
Viva além da Vida! 

                                         Ingrid










QUERO SER POETA


Já tentei cantar...
minha voz rouca me traiu.
Já tentei amar...
meu coração não foi correspondido.
...Sofri...
Já tentei chorar...
minhas lágrimas hesitaram
e não molharam meu semblante.
Já tentei voar...
minhas asas fracas não resistiram
às ventanias constantes e se quebraram.
Tentei, então, magicar...
mas meus truques foram descobertos...
E agora, ... rouca, triste, louca,
sei que nasci para ser poeta!  
                                         Ingrid.






















Ah! Pudera eu gritar
Aos quatros ventos,
Toda essa insônia de pensamentos perversos
Toda essa angústia materializada
Que agora em frente do espelho
Vejo em mim.

Ah! Pudera eu andar por ai
Trocando nomes,
Assumindo taras.
Mostrando e encontrando
Várias caras pintadas,
Com máscaras
Limpas e barbadas.

Ah! Pudera eu num palco
Cantar e interpretar
Todos os personagens que sou eu.
Todos os amores que já vivi
E que ainda vive,
Num tempo que seria meu
Apenas meu...

Ah! E nesse eterno momento
Poder chorar a esmo.
Poder usar os dedos,
Apenas as pontas dos dedos
Como um Deus mundano
Para me fazer ser
Verdadeira e satisfeita!
Ah! Pudera eu,
Será que não posso?
Ah! Pudera eu...um dia poder ser!!!

                  
                                               Ingrid                                               





SOMBRAS URBANAS

Na frenética coreografia urbana,
As sombras se consomem.
Ouve! São gemidos,
Talvez murmúrios de um desejo
Exótico, intenso, contido.
Paixões incontroláveis escorrem pelas sarjetas
Queimando as artérias das cidades fantasmas.
Cidade que matou o corpo
Rangendo em seios de concreto,
Beijando beijos de aço em lábios de metal.
Como quando em gozo, ela
Numa vã tentativa
Pensa em encaixotar nossas vidas.
Vá!
Pois almas que ardem pela liberdade
Jamais se extinguiram!



 Ingrid

















Ainda...

Ainda que diante dos outros
Meus olhos sejam confundidos,
Que haja olhar.
Ainda que diante do ouro
Minhas mãos se abram,
Que haja mãos.
Ainda que diante de minha mãe
Meu orgasmo se confunda,
Que haja orgasmo.
Ainda que pelas ruas
As meninas andem nuas,
Que haja lua.
Ainda que meu coração endureça
Tomara que nunca mais
Te esqueça.


Ingrid





















Não era mais...


Não era mais
Às portas fechadas
Agora, de repente
Sangrava...
E era eu mais uma vez
Mutilada por dentro,
Por ventos,
Que assombram ainda mais
Esta noite...
E disse-me de noite
Que me amava
Só que,
Só de vez em quando.
E assim vim
Novamente a sentir
A noite gritando o teu partir.
























Por fim
Não colocarei ponto final
Nem mesmo vírgula ou
Algum devaneio da razão.
Por fim
Não me perderei na vastidão
Dos meus lençóis,
Nem tão pouco ficarei aqui, parada,
Como uma tola emocional.
Por fim
Eu quero acreditar que um dia
Verei Lilith
Sorrir para mim.
E por fim
Ainda não será o meu fim!

Ingrid


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